31 de agosto de 2011

E S T O P I M

tá chegando o estopim
lá de longe já dá pra ver
sequer no horizonte, logo ali na primeira esquina

tá tudo errado
a liberdade foi distorcida
a moral foi esquecida
a política foi idiotizada
enquanto a família é banalizada

o trabalho mudou de sentido
da base ao topo da pirâmide
o dinheiro está proclamado no trono de deus
e os valores, bem, os valores...
os valores escorrem pelos ralos dos bueiros, em cidades cinzas, de concreto e pó

os conceitos estão trocados e tudo ruma ao caos nada ordenado

é esperar pra ver.


"... uma angustiosa sensação de véspera de desabamento."

pelo prazer de fazer


Analisar a relação é melhor antes. No máximo, durante.

O desafio não move nada nem ninguém. É o prazer que move. O deleite, o gozo, o bem-estar que só a vitória pode proporcionar. Ninguém faz absolutamente nada pelo caminho que vai percorrer, mas pela glória da bandeirada, por mais incerta que seja. Não há nada mais falso do que um sorriso diante de um desafio sem perspectiva de gozo final.

Desafio por desafio não causa alegria alguma – muito pelo contrário – nem para quem faz o que gosta. Duvido que um happy while substitua um happy end. Duvido que um dia a dia prazeroso substitua as congratulações pela obra realizada. Duvido que mil dribles substituam um gol.

Ninguém treina para não jogar. Ninguém ensaia para não estrear. E não é hedonismo, em absoluto. É realização.

Filantropia e voluntariado seriam exceções? Definitivamente não. Até as pessoas mais caridosas do mundo esperam obter prazer sobre o trabalho que realizam, óbvio, e não é dinheiro a questão. Pode ser tanta coisa que dinheiro é apenas a primeira ideia que vai à mente das pessoas menos criativas. O engenheiro que projeta o edifício mais alto do mundo espera ser bem remunerado, mas não acredito que abra mão, em condições normais, de sua assinatura na construção. E o que poderia ser “ego inflado”, em competitividade genuína nada mais é do que uma saudável autoestima. Daquelas indispensáveis na aceleração do desenvolvimento em qualquer nível ou lugar.

Hoje em dia faz cada vez mais diferença se você trabalha para viver ou vive para trabalhar, se você muda conforme a posição da cenoura. Atitudes que influem substancialmente na qualidade do seu material. Afinal, trabalhar é um desafio necessário e a nossa principal ferramenta para aprender. Mas não é o objetivo. Não é a finalidade. Não é a missão. É o meio. E para cada meio há uma análise aristotelicamente lógica que fazemos automaticamente: vale? Compensa? Rende? Aprende-se? Ganha-se?

Enfim, a boa e velha relação custo/benefício. É isso o que nos move: muito prazer.


Por Marcio Akio, redator.


Almendro en flor, 1890
Vincent Van Gogh

13 de agosto de 2011

pensar //

São seis os elementos: ar, terra, fogo, água, sexo e morte. Não, são sete: e lirismo.

// Paulo Mendes Campos

4 de agosto de 2011

O amor é facinho

Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho – esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa – na escola, no esporte, no escritório – levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

[...]

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.


Por Ivan Martins (via CultBox)

3 de agosto de 2011

suportar as tarjas, censuras e escolhas!



Tratar as pessoas como se tivessem dito o que fazer
O mal que fez a si mesmo, sempre rogado desejando
Por mais silêncio que pudesse haver, não era só por mim!

Suportar as tarjas, censuras e escolhas
Em tudo há consequência!
Tente aceitar a sua... assuma o que é teu.

Para outros, todo o mal
Como é fácil apontar!
Este é o seu melhor, tudo o que pode demonstrar?
Eu sei, nunca vai ouvir
Que Deus é esse o seu, que reza só pra si!?

Ainda bem que insisti em esperar o pior
E ver em copos vazios uma escolha melhor
Não exercer o Poder vindo de ideias tão burras
E aceitar que você podia ser muito mais
Talvez tenha sido cego, mas continuei por paixão
Se o dinheiro não veio, e ninguém pode pagar...
Não precisava ter feito o que fez!

Tente outra vez (ou esqueça pra sempre)
Tornar melhor (você acha que pode?)
Tente outra vez (outra oportunidade)


MÚMIA
dead fish

sobre os escombros a sorrir



Passou muito além do seu destino
Perdeu mais tempo sem nada pra fazer
Todas as coisas fúteis, que ela nunca fez
Se olhando no espelho, rindo de si mesma

É tarde pra definir se tudo foi bom ou ruim
Se nada te fez ver, não se preocupe mais
Seja feliz como nunca se permitiu
Agora já não há tempo pra lamentar...

Sentiu falta de se dedicar a algo ou alguém
Pela primeira vez, teve a vida em suas mãos

Ninguém vai sentir ou ver por você
A recompensa não virá, mas isso não importa
Tudo vai terminar...
Sobre os escombros a sorrir
No meio da multidão, cantando alto a canção


A RECOMPENSA
dead fish

1 de agosto de 2011

ninho de cobras

vanguarda de desonestos
rastro de podridão
terra de cabresto
todos passam a perna em todos
e quem ficar de pé é idolatrado vencedor

onde o que tem olhos cega quem tambem vê
essa terra de miséria
onde tudo se consegue na trapaça
onde ser desonesto é guarnecido por Lei
roubar é estilo de vida
e quem não é tolo também faz

vou embora, ali não luto mais
me enojam os olhos, me azedam o coração
cobra devorar cobra... não tenho tanto estômago
desisti desse lugar.



Latitude
-09° 39' 57''

.

el amor es más fuerte!



Pueden robarte el corazón,
cagarte a tiros en Morón,
pueden lavarte la cabeza por nada.
La escuela nunca me enseñó que al mundo lo han partido en dos,
mientras los sueños se desangran por nada.

Pero el amor es más fuerte!

Cuanto podrán disimular la guerra en tiempos de paz?
si aquí los muertos siguen vivos.
Pueden jurar que no es verdad el viejo sueño de volar,
pueden guardarte en una jaula por nada.

Pero el amor es más fuerte!

Pedrito escribe sin parar que el mundo está por estallar
y los demás en la oficina por nada.
Pueden robarte el corazón,
cagarte a tiros en Morón,
pueden lavarte la cabeza por nada.

Pero el amor es más fuerte,
pero el amor es más fuerte,
pero el amor es más fuerte,
pero el amor es más fuerte!



EL AMOR ES MÁS FUERTE
fito paez / tango feroz