31 de outubro de 2011

esbranquear

tudo que sai, tem tom de limpeza
de água suja que sai, e um dia novo que chega
tudo que se vai, é o que não se deva
e assim que se sai, algo menos que lateja.


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16 de outubro de 2011

meu caro,
se você não encontrar a paz em você e na Natureza,
pode desistir de encontrá-la em outro lugar.



olha... é o Sol, é o Céu, é o Mar... ♪



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o meio

Quem coloca-se sempre em evidência, teme o anonimato
Quem mostra-se demais sempre a postos, julga ser melhor do que a multidão
Quem está sempre a falar, tem medo do silêncio e de suas descobertas
Quem pouco fala, receia o compromisso das palavras
Quem brinca demais, teme encarar a retidão da seriedade
Quem quer desesperadamente ser sempre o melhor em tudo, tem medo de se descobrir um perdedor em algo
Quem critica demais, teme se encarar
Quem fala demais dos outros, teme ver o que reflete o espelho
Quem deseja sempre a solidão, teme a união e suas implicações
Quem busca sempre estar com alguém, teme a solidão e suas constatações
Quem nunca dá ordens, teme a responsabilidade do comando
Quem sempre obedece, teme o custo da autonomia.

O Caminho está no meio.


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8 de outubro de 2011

Som que há em tudo nos incendeie.


Chove lá fora, e aqui, mano, aqui não chove, graças à Deus... Tem muita casa por aí em que está chovendo, mas aqui, não chove, graças à Deus. Mas e aí, e na casa de quem chove. O que desta informação me diz respeito: pergunta-se o famoso “o que que eu tenho a ver com isso”?

Nossa caminhada nesta terra é custosa! Horas de seca intensa, momentos de chuva que inunda tudo, incêndios que destroem casas, plantações, florestas, tempos de chuva que fazem perder as safras... O suado pão de cada dia pra todos custa muito de um jeito ou de outro: Pra uns custa o trabalho pesado, começado cedo, nem sempre bem remunerado... Pra outros, pra quem “olhando daqui”, parece que não custa porque já vem de berço, custa falta de sentido, de alegria, de prazer, de amor. E a pergunta, que pelo menos pra mim é recorrente é: “Pra que diabos isso?”, Porque este sofrimento todo? Chove lá fora, a criança chora de fome, de frio, de febre, meu time perde, quem alguém quer já não quer este alguém.

Tem um ditado árabe que pergunta: “Persistindo o prazer, o prazer persiste?” Nesta antiga indagação que nossa espécie pelos milênios conquistou, talvez resida parte importante da explicação pras nossas pelejas: A dor (parece ser) necessária pra que demos valor ao prazer.

E nos darmos as mãos é necessário pra que demos valor à oportunidade de partilharmos a experiência riquíssima de convivermos, nós todos juntos, neste nosso tempo do mundo!

Minha intenção não é aqui “fechar” uma resposta! Porque eu também (acreditem, intensamente) procuro por ela. O que quero é dividir, e quem sabe, receber Luz pra encontrar com ela. Mas algumas certezas vão se cristalizando:
- A entrega alegre e despojada ao trabalho é que gera a alegria de colher os resultados esperados, e gera o trabalho que faz diferença pra nós, e pros que estão ao nosso redor;
- A entrega nos relacionamentos amorosos é que gera o prazer transcendente, que pode chegar a satisfazer nossas almas sequiosas pela alegria, que sabemos, está “em algum lugar”;
- A entrega ao sentimento de fraternidade é que pode gerar um tempo de menos violência e mais gentileza entre nós!

E olha que continua a chover lá fora. Graças a Deus.


Por Chico Nogueira

A última ceia,
Salvador Dalí - 1955

O Amor é como Deus; ambos só se oferecem aos seus serviçais mais corajosos.


Asim como nenhuma planta cresce contra a morte, não existem meios simples de se facilitar uma coisa difícil, como no caso da vida. Podemos somente eliminar a dificuldade por meio de um correspondente emprego de energia. As soluções libertadoras só existem quando o esforço é integral. Todo o resto é coisa mal feita e inútil. Só se poderia pensar em amor livre se todas as pessoas realizassem elevados feitos morais. Mas a idéia do amor livre não foi inventada com esse objetivo e sim para deixar algo difícil parecer fácil. Ao amor pertencem a profundidade e a fidelidade do sentimento, sem os quais o amor não é amor, mas somente humor. O amor verdadeiro sempre visa ligações duradouras, responsáveis. Ele só precisa da liberdade para escolha, não para sua implementação.Todo amor verdadeiro, profundo é um sacrifício. Sacrificamos nossas possibilidades, ou melhor, a ilusão de nossas possibilidades. Quando não há esse sacrifício, nossas ilusões impedirão o surgimento do sentimento profundo e responsável, mas com isso também somos privados da experiência do amor verdadeiro. O amor tem mais do que uma coisa em comum com a convicção religiosa: ele exige um posicionamento incondicional, ele espera uma doação completa. E como apenas aquele que crê, aquele que se doa por completo a seu Deus, partilha da manifestação da graça de Deus, assim também o amor só revela seus maiores segredos e milagres àquele capaz de uma doação incondicional e de fidelidade de sentimentos. Como esse esforço é muito grande, só alguns poucos mortais podem vangloriar-se de tê-lo realizado. Porém, como o amor mais fiel e o que se doa ao máximo sempre é o mais belo, nunca se deveria procurar o que pudesse facilitá-lo. Só um mau cavaleiro de sua dama do coração recua diante da dificuldade do amor. O Amor é como Deus; ambos só se oferecem aos seus serviçais mais corajosos.


(JUNG, Carl; Sobre o Amor - Seleção e edição de Marianne Schiess; Editora Idéias & Letras, Aparecida, SP, 2005; pg.23)

Vincent Van Gogh,
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